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Vereda da Salvação (1965, Idem) - Anselmo Duarte

  • Foto do escritor: Marcio Weber
    Marcio Weber
  • 17 de fev. de 2023
  • 3 min de leitura

O incontornável e a cegueira.


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Anselmo Duarte é uma figura ambivalente no cinema brasileiro. Se por um lado tem participações em filmes característicos do que foi marcado como a chanchada, entre eles títulos proeminentes de diretores marcados pelo período como José Carlos Burle e Watson Macêdo respectivamente por "Carnaval no Fogo" (1949) e "Depois Eu Conto" (1956). Porém é através da direção cinematográfica em que gradativamente canaliza os esforços a expor dramas sociais de reverberações históricas, sociais e morais em relação a acontecimentos formadores de uma identidade nacional.


Ao prosseguir com tópicos e abordagens similares ao filme antecessor de Duarte, O Pagador de Promessas, vencedor da Palma de Ouro em Cannes de 1962. "Vereda da Salvação" é um filme que mantém a abordagem em relação ao fanatismo religioso, a intolerância, a manipulação e a tirania teocrática em nome do divino. Se antes o tema central era canalizado pelo ódio religioso que traz horizontes trágicos para um homem simples que faz um ofertório para agradecer uma promessa. Aqui ao acreditar e fazer as pessoas acreditarem de um messianismo que cria falsas esperanças da comunidade para o futuro.



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A trama é conduzida a partir de um casal que não tem um casamento no papel e resiste as pregações e ao período de penitências instalado pela comunidade e apropriados por Joaquim (Raul Cortez), um homem que se vê sem desvios morais, sem desejo sexual e com todos os desígnios necessários para ser de fato um Cristo ao qual se autodenomina. Manuel (José Parisi) e Arthulliana (Esther Mellinger) são figuras opositoras que sofrem e tem posturas diferentes enquanto ele se mostra resignado e passa acreditar, a outra passa a ser um mártir que luta pelas paixões e convicções. Dolor (Leila Ábramo) é outra figura central do filme colocada pelo filho como uma reencarnação de Maria, enquanto ela vê a necessidade de ser perdoada pelos pecados que a assombram.


Enquanto o filme não poupa o espectador do impacto desta busca de um paraíso que é contraposto por uma realidade violenta dentro do contexto histórico inserido pelo filme, isto é as revoltas messiânicas do século XIX, que é guiada também pela violência e a opressão de uma liderança que capaz de tirar vidas e transportar fiéis para lugares perigosos. Faz um desenvolvimento complexo dos personagens fazendo com que o personagem de Raul Cortez apresente vulnerabilidades e a certa ingenuidade de estar investido por algo algo que está além do domínio. Dolor está consciente que prefere acreditar em algo que não acredita pela conveniência e amor do filho, as prerrogativas da fé e o abalo de uma realidade que não está sob o controle faz Manuel deixar as próprias convicções e Arthulliana vive as intolerâncias e determinações de uma situação em que ela perdeu o controle.



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Através de planos arrojados com movimentações complexas de câmera que tanto acompanham os personagens dentro de ambientes rurais, em aglomerações, em que ditam tônicas de poder, desespero, escárnio que perpassam a trama que transpõe a inquietação e o desconforto em imagens. A trilha musical composta por Diogo Pacheco é eficaz em traduzir tanto uma melodia que traz sensações acolhedoras que consegue traduzir a dinâmica de comunidade e à medida que o culto se instala.


"Vereda da Salvação" é um filme que apesar de ser um filme passado em uma época histórica específica dialoga com o presente e pode trazer reflexões para o futuro, visto que muitos elementos podem ser identificados nos dias de hoje. Onde o poder e a intolerância andam lado a lado e merece ser descoberto e preservado.


O filme pode ser visto na íntegra pelo Youtube:





 
 
 

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