Conhecida por filmes como "Que Horas Ela Volta?", "É Proibido Fumar" e pelo ótimo "Mãe Só Há Uma", Anna Muylaert já tinha surpreendido o mundo do cinema quando ganhou 7 Kikitos no Festival de Gramado com sua estreia na cadeira de direção por "Durval Discos". Lançado originalmente em 2002, o filme voltará aos cinemas de todo o país, em uma versão digitalizada e tratada, pela Sessão Vitrine Petrobras, que também patrocinou o tratamento. Rodado em super 35mm, o filme foi digitalizado em 4k e não precisou passar pelo processo de restauração, já que os negativos não estavam deteriorados.
Na cidade de São Paulo, Durval (Ary França) tem uma loja de discos de vinil, os famosos LP's, e vive com a sua mãe (a grande atriz, Etty Fraser). Antes, de forma até enigmática, somos apresentados a Kiki (Isabela Guasco), que está em uma fazenda, dando tchau para um cavalo. E com um plano sequência que ajuda a ambientar o espectador, somos apresentados, de forma criativa, aos nomes presentes no elenco.
Apesar do primeiro CD ter sido lançado no Brasil por Nara Leão, em 1986, o formato só foi ficar popular no começo do século 21 e essa dificuldade de assimilar a mudança de formato e encarar o desejo do público é fartamente desenvolvido no primeiro ato do longa. E é engraçado ver as diversas situações que Durval atura, já que hoje é cool colecionar LP's. Existem países, por exemplo, que hoje vendem mais LP's que CD's. O fato é que o personagem ainda luta pela existência de sua loja, e precisa explicar para a clientela porque ainda vende "um produto defasado" ou que "tem um som pior", como foi dito por um determinado cliente. Mas isso tudo vira somente um plano de fundo para o que vai acontecer dentro de sua casa.
Durval vive com a mãe, que apesar de apoiar o filho e todo dia perguntar se ele conseguiu vender seus discos, demonstra um certo cansaço pela vida cotidiana. O personagem então sugere a contratação de uma empregada e o motivo é um pouco duvidoso, já que Durval parece mais preocupado com a beleza da empregada do que com seu currículo. A mãe não parece disposta a pagar mais do que 100 reais e a missão de achar alguém torna-se quase impossível, até a chegada da personagem de Letícia Sabatella, que em uma estranha complacência com o absurdo valor oferecido, aceita o trabalho. E é nessa camada cômica que o filme é construído, até que chega Kiki.
A destreza de Muylaert em construir a tensão, até então inexistente na obra, é digna de nota, já que, como dito anteriormente, o filme nutriu uma camada cômica e com a chegada de Kiki, o filme abraça de vez o tragicômico, o absurdo e a virada de chave para que a personagem de Etty Fraser demonstrasse o que estava faltando no cotidiano.
A versão digitalizada do filme estreia exclusivamente nos cinemas no dia 23/11/2023.
FICHA TÉCNICA
Direção: Anna Muylaert
Produção: Sara Silveira, Maria Ionescu
Produção executiva: Sara Silveira, Maria Ionescu
Roteiro: Anna Muylaert
Elenco: Ary França, Etty Fraser, Isabela Guasco, Marisa Orth, Letícia Sabatella
Música: André Abujamra
Diretor de fotografia: Jacob Solitrenick
Direção de arte: Ana Mara Abreu
Figurino: Mariza Guimarães
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