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Foto do escritorMarcio Weber

Diário de uma Onça

DIARIO DE UMA ONÇA

Até onde vai à necessidade de humanização de animais? Mimetização ou empoderamento? Compreensão ou apropriação? Alguns desses dilemas podem ser debatidos no novo documentário que acaba de entrar no catálogo da Globoplay, “Diário de uma onça” com direção tripla de Joe Stevens, Fabio Nascimento e Mario Haberfeld, com direito a narração da estrela em ascensão, Alanis Guillen (Pantanal).


O documentário carrega muitos atrativos, relevância ambiental e socioeconômica, uma vez que aborda, de forma direta e frontal alguns problemas, entre eles a devastação maciça de biomas e o comportamento predatório expresso na caça ilegal de animais silvestres, fatores que assolam a biodiversidade e são ameaças universais, uma vez que as onças-pintadas estão oficialmente extintas de países como Estados Unidos, apesar de existir uma grande concentração destes animais nos países da América do Sul, entre eles o Brasil.


E apesar das onças não se encontrarem em situação de extinção, ainda existe uma ameaça tangível que pode se agravar com as ações do homem. É exatamente este posicionamento que o documentário defende com unhas e dentes; mas se por um lado o discurso é socialmente relevante e corresponde a uma necessidade contínua de conscientização por parte da população, existem escolhas criativas que diluem a pujança e a complexidade do discurso.


Começando pela narração, de causas a efeitos, a escolha de Alanis Guillen parece acertada no papel, uma vez que não somente protagonizou uma nova versão da novela “Pantanal” (também batizada de mesmo nome), Juma também se transforma em onças. E apesar do documentário se situar em território mato-grossense e ser essencialmente sobre os felinos silvestres, existe uma grande diferença entre abordar algumas questões naturalistas a partir de uma dramaturgia, vastamente encenada, e que o discurso sobre a vida dos animais esteja muito longe do primeiro plano. Ao buscar protagonismo aos animais, a decisão de utilizar uma narração performática soa ambígua; se por um lado nos guia pelos acontecimentos do filme, contradiz a própria essência do animal, pois todos os sentimentos são ditos por intervenção humana de forma controlada e pouco orgânica. O sotaque carregado e artificial pouco ajudam nesse sentido.


DIARIO DE UMA ONÇA

Outro fator arbitrário é o ângulo assumido, em pouco mais de uma hora, somos divididos entre a narração que se coloca no ponto de vista das onças, de outro o espectador acompanha os trabalhos da ONG "Onçafari", no que parece um certo conflito de interesses, uma vez que os momentos, a relação e o contexto não estabelecem um diálogo orgânico e em muitos momentos parece apenas uma sobreposição de fatores que coexistem com assuntos em comum, mas não em comunhão.


A direção de Stevens, Nascimento e Haberfeld não economizam na utilização de drones, de imagens de estabelecimento que mostram a exuberância do habitat, o vigor e a beleza das onças, além de mostrar a ação da depredação do meio-ambiente e da hostilidade dos caçadores. Porém, todo esse conjunto parece excessivamente polido, distante, por fim, expondo características comumente reproduzidas em reportagens jornalísticas e documentários institucionais.


“Diário de uma Onça” traz à mesa uma discussão importante e crucial para o planeta terra, entretanto parece cair em armadilhas criativas que criam antíteses em relação à mensagem central do filme, enfraquecendo o impacto do discurso final.

 

FICHA TÉCNICA

Direção: Joe Stevens, Fábio Nascimento e Mario Haberfeld

Com a voz de: Alanis Guillen

Produzido por: Mario Haberfeld, Paula Cosenza e Joe Stevens

Roteiro: Bea Monteiro e Giuliano Cedroni

Montagem: Pedro Bronz

Trilha Sonora: Binho Feffer

Direção de Produção: Carolina Ribas

Edição: Melissa Cunha

Argumento original: Bea Monteiro, Giuliano Cedroni, Monika Buhrke

Assistência de Roteiro: Amanda Moraes, Ana Herman, Luiz Filipe Noé e Luiza Aron

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