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Foto do escritorMarcio Weber

Barbie (2023, Idem) - Greta Gerwig

A indústria cultural entrou em polvorosa, a junção de uma das principais criações da empresa Mattel, o mundo de brinquedos de “Barbie” de brinquedos análogos à figura humana entre diversas formas e roupagens. Após múltiplas versões que buscaram diversificar e impactar diferentes nichos e especialmente no campo de cinema com as mais de 40(!!!!), versões para o cinema e a televisão. Após tentativas mal-sucedidas, a idealização de transpor “Barbie” ao live-action atinge uma euforia inimaginável ao agrupar um time seleto de Hollywood. Começa na direção de um nome de ascensão meteórica, Greta Gerwig, nessa altura já tinha alcançado um número ímpar de novos apreciadores, com dois filmes que abordam de forma sensível questões universais sobre gênero, autoaceitação, descobertas e protagonizadas por mulheres firmes. Os filmes tiveram ótima aceitação do público, do circuito da crítica e de premiações, furando círculos e bolhas sociais. A escalação de um elenco heterogêneo, diversificado, plural e até mesmo exótico, que vai de nomes firmados no star system estadunidense, como Margot Robbie, Ryan Gosling, atores mais reconhecidos pelo desempenho cômico como Will Ferrell, Kate McKinnon ou em franca ascensão como Alexandra Shipp, Simu Liu e até mesmo a cantora Dua Lipa fora anunciada. Ao falar sobre essa produção, é inevitável comentar sobre a avalanche de produtos promocionais, que não se restringiu ao teaser, trailer e poster, mas diversas peças visuais que abraçaram e promoveram expectativas e especulações incontornáveis, o que gerou um efeito manada em vários cantos do mundo levando empresas a buscarem customizações em um nível alucinante em que foi abraçada da própria companhia que produziu o filme, Warner e passando e de muitos exemplos, até mesmo o Google entrou na onda, e no sistema de buscas relacionadas a “Barbie” foi impregnado pelo rosa característico da ficção. As salas de cinema ao longo das estreias pareciam eventos anacrônicos deslocados do tempo, em que assistir a um filme foi sinônimo de uma euforia contagiante em indivíduos praticamente uniformizados e para muitos ver a produção nas primeiras semanas, um desafio. E não, não estou me esquecendo da associação inigualável e sem precedentes de uma associação tão canônica, singular com Oppenheimer de Christopher Nolan, que extrapolou e muito o tratamento dado ao segmento tratado como variedades que impactaram os veículos de comunicação, inúmeras personalidades em diversos ramos, até mesmo, Michel Temer quis abocanhar para si a repercussão de “Barbie” (para depois apagar a publicação). O resultado reflete no desempenho comercial até a publicação deste texto tardio o filme ultrapassou a marca de um bilhão em sua faturação, estando entre os 30 filmes com maior bilheteria do mundo, (é importante ressaltar que o desempenho só tende a aumentar, pois a produção mal completou um mês em cartaz), decidi comentar com uma retórica crônica sobre acontecimentos que muitos leitores estão carecas de saber, mas ainda considero questões estarrecedoras e simbólicas, e o excesso de exposição, também gera inegável saturação, com comentários de múltiplas pessoas e de pensamentos mais variados possíveis. No momento da redação, também me pergunto se devo reiterar os holofotes ao filme e acabo. Agora falemos sobre a película para além do fenômeno. Tem muito a dizer? Ou apenas um subproduto mercadológico com mais atenção, do que outras produções de mercadorias (Air, Flamin’Hot, The Beanie Bubble, Tetrix).





Poderia sustentar o efeito da pergunta, mas corto meu próprio suspense com uma afirmação evasiva e dividida, sim e não. Enxergo qualidades acintosas desempenhadas por um elenco em estado de graça que embarca nas ridicularizações, na sátira, no grotesco e não se acanha em reproduzir a artificialidade de um suposto mundo de sonhos, o absurdo, o mau gosto, a infantilização que está nítida nas roupas, na tentativa de alcançar padronizações e uma busca pelo alcance irrestrito da beleza. A crise existencial estipulada na narrativa da “Barbie estereotipada” é a bandeira de autoconsciência para mostrar que aquele próprio universo ali é frágil, deturpado, questionável. Perceber a ironia em que se tudo é perfeito? Qual o motivo dessa insatisfação?, temos vencedores de prêmios nobel, presidentes e qualquer tipo de condecoração destinados a Barbies, existem os Kens que estão ali, em uma busca que muitas vezes está passível de rebaixamentos para poderem ser de fato vistos, mas que não parece importar muito para a dinâmica delas, existe um tal de Alan que é ainda mais descartável e Midget, uma mulher grávida que virtualmente não recebe atenção. Ideações como a morte e questões, trazem a personagem de Margot Robbie para fora desta caverna, ou melhor, Barbielândia.




Não precisa fazer muitos exercícios de abstração para perceber as ventilações discursivas atribuídas por “Barbie” de Gerwig, que neste filme até tem algum espaço para trabalhar algumas temáticas que a notabilizaram como diretora de cinema para o grande público, entretanto o formato e a necessidade do texto em escancarar as relações com o produto e especialmente atribuir um tom excessivamente expositivo e didático que a dicotomia entre o imaginário e o “mundo real” do filme é apenas uma separação cínica, a conscientização da questionabilidade desse universo protagonizada em um discurso carregado pela atriz America Ferrera uma concessão criativa com pouco espaço para imaginação, assim como o ato final em que reitera de forma cômica o instante com maior teor emocional do longa. Existe também uma falta de dosagem na articulação na insurreição dos Ken 's provocada no segundo ato.


Mas “Barbie” funciona em transpor a falta de identidade ou excesso de referências e cópias, num processo de autoconscientização de uma falta de aura e replica os avanços da reprodutibilidade técnica em cenários pastiches evocativos e instigantes que tanto apetecem o lado visual quanto reforçam o nostálgico, o desbunde do rosa a inclinação ao kitsch de uma própria ontologia de um universo de bonecas” que foi inicialmente decodificada também no videoclipe do grupo musical dinarmaquês, Aqua. Entretanto, o filme não apenas debocha da própria essência, como faz um conteúdo ácido que tira sarro de elementos, repercussões e simbologias que vão de marcos do cinema como “2001- Uma Odisseia no Espaço” "Matrix” e “Poderoso Chefão” para a banda que estourou nos EUA nos anos 90, Matchbox Twenty. Além de referências cinéfilas no ponto de realização do filme que vão de referências mais explícitas que vão de "Mágico de Oz" e "Nos Embalos de Sábado à Noite" para outras obras menos difundidas ao grande público como Neste Mundo e Outro e O Segredo Ìntimo de Lola.




O lúdico do absurdo deste universo e como ele é defendido pelo elenco é um diferencial em que povoa um nome como John Cena como Ken sereia, a trivialidade autoconsciente de uma disputa entre os personagens de Gosling e Liu que disputam por algo que não sabem, ou a escalação oportuna de Michael Cera emprestando o perfil desajeitado e deslocado para um personagem assumidamente sem propósito. Margot Robbie já se provou uma atriz versátil e que assim como a boneca, já tem uma iconografia atrelada desde filme como A Grande Aposta e o próprio texto de Gerwig, num exercício metalinguístico faz questão de explicitar, e mais do que credibiliza a figura apresentada sustenta o estereótipo e nuances emocionais. Já Gosling, abraça sem qualquer pudor as superficialidades e exageros de Ken, respondendo com um timing cômico e um humor físico que resulta em um magnetismo considerável, apesar de muitos atores terem um tempo de tela reduzidos, poucos são os personagens originalmente oriundos da “Barbielândia” que realmente são mal aproveitados, e esta menção desonrosa vai para a Barbie com defeito de Mckinnon que aparece com algum fôlego para depois ter uma resposta burocrática e com poucas dimensões.




O apelo musical da produção é variado e conseguiu reunir um grupo seleto de artistas pop do momento que emplacam composições no filme, impulsionando uma concepção excessiva cartunesca e vibrante ou de tônicas específicas que vão se adequando aos momentos do projeto e isso pode ser expressa por músicas de artistas que vão desde da própria “Dance the NIght” de Dua Lipa, “Speed Drive” de Charli XCX, para“ Journey To The Real World” de Tame Impala e What I Was Made For? de Billie Eilish


“Barbie” traz divertimento e assinala questões relevantes, mas a dependência criativa com a própria empresa criadora do produto, aliadas a algumas simplificações, conveniências, arrefecem potencialidades, mas independente do que for dito. O impacto social já foi mais do que estabelecido.




“Barbie” pode ser visto nos cinemas em múltiplas cidades ao redor do Brasil (e do Mundo).


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