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Foto do escritorMarcio Weber

A Última Noite de Amore | Festival de Cinema Italiano 2023


FESTIVAL DE CINEMA ITALIANO 2023

“A Última Noite de Amore”, é mais um dos filmes selecionados pelo 18º Festival de Cinema Italiano no Brasil que foi conduzido por um ator que também é diretor, neste caso Andrea Di Stefano ("As Aventuras de Pi"), e talvez seja um dos filmes com maior notoriedade dentre as produções presentes, uma vez que é protagonizada por um dos atores de maior apelo hoje no cinema contemporâneo italiano e duas vezes indicado ao European Film Awards, Pierfrancesco Favino, soma-se a isso uma exibição no importante Festival de Berlim e uma promessa de um thriller tenso.


Mas o que representa o filme para além desses indicadores/expectativas? Assumindo, do início ao fim, o tratamento de thriller, Di Stefano não se furta de criar um cenário de equiparar tensões, desde um prólogo particular composto por um plano sequência arrojado e com diversos acontecimentos que dão uma certa suspeição do que está acontecendo e pode vir acontecer e também a existência de situações imorais e perigosas, neste mosaico acidentado e muito tenso que a obra se desenha.


A ULTIMA NOITE DE AMORE

A noite, já presente no título, é fundamental, por não só ambientar a trama, mas também provocar uma sinestesia, signos e ações de um tempo, que vai sendo assimilado pelo espectador. O roteiro decide adotar uma estrutura não cronológica que já reforça essa inclinação do filme em trabalhar os diferentes níveis possíveis de tensão e suspense, que só crescem e aumentam de proporção à medida das passagens dos atos. Para isso, é necessário criar amarras, conexões e desenvolvimentos graduais de personagens.


É neste ponto que “ A Última Noite de Amore” demonstra seu calcanhar de Aquiles, uma vez que se vê refém de diálogos expositivos e maniqueístas para traçar o perfil, a moralidade e para compor atitudes e ações determinantes que serão o fiel da balança para determinar até onde o filme vai, mostrando que ele possui virtudes, está prestes a se aposentar, possui um segundo casamento e tem uma amizade dúbia.


A ULTIMA NOITE DE AMORE

O texto do próprio Di Stefano acaba por explicitar demais essas relações e principalmente pela necessidade de confeccionar muito da personalidade e dos indicativos de Amore por uma intervenção narrativa. Outros personagens determinam quem é o policial e as relações sociais do protagonista soam pouco convincentes e não há uma articulação que consiga cria relações complexas por meio do subtexto, o que não potencializa um mistério e outros caminhos possíveis de serem lidos.


O que não quer dizer, todavia, que a trama é empobrecida, uma vez que as relações entre a montagem, a temporalidade e o ritmo reforçam algumas revelações um pouco mais sutis e fortes. E a condução técnica é a principal virtude apresentada pelo longa-metragem, que traz a potência atmosférica por meio de uma trilha musical estridente e acachapante que deixa a inquietude, o stress e a preocupação deste personagem que está em uma encruzilhada, e a transportação dessa sensação é de longe um dos acertos deste filme.


A claustrofobia, paranoia e traição são elementos que Di Stefano conduz como uma boa leitura de extracampo, ou seja, o olhar além do que se vê em relação aos fatores espaciais e de tempo relacionada a algo desfavorável que vai se intensificando, e com planos fechados que instrumentalizam este exercício de tensão.


Se por um lado, o filme traz uma experiência que traz ansiedade e choques, a experiência tende a uma incompletude pelas exposições e maniqueísmos estruturais, sobretudo na construção psicológica. Embora consiga, com algum domínio, explorar as facetas do suspense na trama.

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