O cineasta, André Bushatsky, acumula algumas experiências e tem exibido seus filmes com constância, explora formatos e expressões, já tendo dirigido um curta de animação, documentários e ficções em longa metragens, além de médias documentais. A experiência galgada pelo cineasta desdobra-se em um novo lançamento, um filme documental com tema vital para a humanidade, isto é, os desdobramentos do Nazismo, as vítimas do extremismo e enxergar no mundo contemporâneo, um período complicado para a sociedade atual, assim surge “Um Pouco de Mim, Um Pouco de Nós”.
A narrativa busca estreitar a figura não como um articulador invisível que desenvolve uma argumentação por meio de entrevistas e uma série de imagens e ambientações sobre o tema, mas sim uma participação direta, em primeira fazendo com que Bushatsky seja um dos protagonistas centrais do filme, isso está longe de ser uma novidade no cenário brasileiro, e possui inúmeros exemplares de filmes como “Os Dias com Ele” (2013) de Maria Clara Escobar, "Elena" (2012) de Petra Costa ou "Últimas Conversas” (2015) de Eduardo Coutinho.
Apesar de não ser uma escolha necessariamente nova, existe uma implicação direta do dispositivo escolhido por Bushatsky. Pois ao ser personagem espera-se que existam paralelos amarrados e que abarquem a junção entre a imagem de um realizador que intervém diretamente na obra, junto às complexidades de se tratar de uma das maiores tragédias da humanidade e conjecturar o cenário do presente, entretanto o elo se mostra frágil por diversos elementos, e um dos principais é justamente esse, a falta de comunicação entre o que o cineasta acrescenta na participação direta do longa-metragem em associação aos depoentes e os temas debatidos.
O trabalho de pesquisa e produção para conseguir entrevistas e variedade de material humano, é digno de nota, uma vez que existem uma seleção de pessoas dispostas e com condições diretas para contar a vivência, experiências, reflexões e, pelo menos em tese, adicionar verdadeiras visões de mundo. Um testemunho imaterial para a memória.
Seguindo os preceitos de Edmund Burke “quem não conhece a própria história, está fadada a repeti-la”, entretanto a narrativa parece não saber como aplicar as visões coletas por personagens centrais da história, muitas vezes fragmentando discursos no meio e passando para outros atores sociais sem que haja uma conexão causal.
Personalidades com repercussões de meios midiáticos como os jornalistas Pedro Bial, Caio Blinder, o filósofo Mário Sérgio Cortella e a economista Claudia Cotin são eleitos para embasar o debate, entretanto, existe um excessivo que mais pende para o redundante em pontuar situações sociais, percepções históricas, muito difundidas pelo senso comum do que uma análise depurada sobre a trajetória do extremismo no mundo.
A montagem é o elo mais fraco do filme, e escancara a dificuldade de estipular coesão e coerência lógica entre as imagens e fazer jus a estipulação de uma tese que consiga associar questões tão sensíveis do passado e do presente com uma mínima coerência descritiva e narrativa que acaba sendo diluída por uma gama de informação mal ajambradas independente dos momentos abordados.
A relevância e a potencialidade do tema acabam diluídas por questões formais e escolhas narrativas problemáticas que resvalam no resultado.
"Um Pouco de Mim, Um Pouco de Nós" estreia exclusivamente nos cinemas no dia 07/09/2023
FICHA TÉCNICA
Produção: Bushatsky Filmes
Direção e Roteiro: André Bushatsky
Produção Executiva: André Bushatsky e Pedro Alves
Direção de Produção: Renato Sacerdote
Direção de Fotografia: Alan Fabio Gomes
Montagem: Heloisa Kato e Jonathan Mendonça
Assistente de Fotografia: Murilo Perches
Pesquisa: Sarita Sarue
Assistente de Produção: Thais Bugelli
Som Direto: Douglas Gonçalves
Trilha Original: Tami Belfer
Edição de Som e Mixagem: Eric Ribeiro Christani, A3pS
Stills e Making of: LH Simonetti
Design: Índio San
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