A ocorrência de terremotos na Coreia do Sul não é tão frequente quanto em outros países da Ásia, mas em Sobreviventes - Depois do Terremoto, Tae-hwa Eom resolve explorar uma outra possibilidade. Escolhido pelo país supracitado, o longa tenta seu espaço na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2024.
Facilmente confundido com os chamados "filmes-catástrofe", o longa coreano, além de retratar as dificuldades geradas por uma ocorrência dessa magnitude, se preocupa um pouco mais em discutir questões sociais do que outros filmes com temas semelhantes.
O casal Myung-hwa (Park Bo-young) e Min-sung (Park Seo-joon, do incrível "Parasita") foram beneficiados, assim como vários moradores do local, a adquirirem um apartamento financiado com condições interessantes, uma espécie de Minha Casa Minha Vida no Brasil. Porém, a fonte de esperanças para aqueles moradores vira um pesadelo pois um terremoto catastrófico atinge uma grande área da cidade e o condomínio onde o casal mora é o único que permanece em pé.
Assim como todo filme do tema, Sobreviventes mostra como a moeda de troca para a sobrevivência humana rapidamente muda do dinheiro para itens do cotidiano, como pilhas e enlatados. Além disso, algumas situações inusitadas vão ocorrendo e é fácil notar que o diretor busca o riso do espectador, porém sem êxito, utilizando somente a trilha como lembrete de aquele era um momento cômico.
A construção de alguns personagens vem majoritariamente por prequelas e é nesse momento que o diretor pega com mais força algumas discussões sociais e o fato de que a maioria daqueles moradores estavam endividados com o financiamento do imóvel.
O conflito começa a ser construído quando os moradores do condomínio enxergam a necessidade de eleger uma espécie de delegado (Lee Byung-hun). E apesar de parecer o melhor a ser feito naquela situação, os condôminos acabam elegendo alguém com mais preocupações em torno da propriedade do que do bem comum, principalmente quando chegam os "forasteiros" ou "baratas", apelidos dados por alguns.
A comida começa a acabar e os conflitos ficam cada vez mais evidentes, e comandados pelo delegado, alguns homens são selecionados para fazerem excursões entre os escombros. O diretor não tem medo dos planos abertos e parece exibir com orgulho o trabalho da equipe de efeitos especiais, que por sinal, se saiu muito bem intercalando objetos reais e CGI.
A montagem é bem sucedida, impedindo a sensação de que a história interrompida era mais interessante que os flashbacks, e lida bem com eventos paralelos, inserindo raccord's criativos. Enquanto alguns personagens cavam para achar comida, outros cavam para desvendar um mistério sobre o delegado.
Passando por um quadro com a frase "Ama teu vizinho como a ti mesmo", o exército particular do delegado, que incluía o marido de Myung-hwa, começa a marcar os apartamentos daqueles que cometeram o erro de acolher quem não vivia no condomínio no momento do desastre, aplicando a pena de repetir 200 vezes "nós estamos errados". Essa e outras atitudes reforçam a diferença de perspectiva da personagem e Min-sung.
Myung-hwa era enfermeira e seu marido era um servidor público. Em certo momento Min-sung declara que o caráter de sua esposa é mais sensível devido a profissão. Sensibilidade essa que permitiu que a personagem investigasse a vida do delegado, que naquele momento, agia mais como ditador e não como um homem escolhido pelo povo.
Por fim, a sensação que fica é que Tae-hwa Eom conseguiu dar sobrevida a um tema desgastado, mesmo com tropeços.
Nota: 7
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