A entrevista com o músico Renan Rocha (Kassel, Two Places At Once) e que começou recentemente uma carreira solo foi realizada no dia 21/12/2023, em detrimento de problemas técnicos na hora da gravação que culminou com a perda de mais da metade do material gravado que ocasionaram o engavetamento da entrevista. Devido novos lançamentos, novidades, além de reflexões que podem ser lidas aqui. A entrevista durou cerca de 104 minutos e trouxe antecipações de alguns momentos, também foram abordados influências, processos e reflexões pessoais.
Entre as pautas tratadas destaco a defesa que ao ser compositor de trilha sonora para uma obra cinematográfica também faz um papel de atuação, no sentido de interpretar algumaa melodia em questão, a tonalidade, a intensidade e a essência programada para o que a dramaturgia pede que cria um outro sentido, outras camadas que se assemelham as emoções e sensações que um ator pode desempenhar, isto é uma música tensa em cena de ação, ou uma música dramática em um cena que transmite carga emocional também redimensionam a obra.
Também foi comentado sobre às pressões da carreira musical e como é ser um artista independente em que não se submete uma pressão criativa tão forte, mas também se observa a falta de espaço, a dificuldade de divulgação e espaço orgânico nos veículos, além da dificuldade de ser noticiado.
Ao ser perguntado sobre o que ele tem escutado na cena da música brasileira contemporânea foram citados nomes entre outros como Don L, Luiza Lian, Rebeca Sauwen, Tim Bernardes, Chico Bernardes, saudade, IIGOR.
Ao longo da conversa também ocorreu um espaço para casa de show e um comentário sobre esses espaços para artistas independentes, ele destacou a possibilidades de locais como Audio Rebel, Galpão Ladeira das Artes e outros menos acessíveis, mas influenciáveis como o Circo Voador. O espaço Kult Kollector foi citado como de maior abertura nas épocas de Two Places At Once, mas que se encontra atualmente fechado)
ABAIXO ENTREVISTA NA ÍNTEGRA ORIGINALMENTE FEITA EM 21/12/2023.
Marcio Weber: Gostaria que você comentasse do período do encerramento de Two Places At Once e o início do Kassel e eu gostaria que comentasse um pouco na escolha do título “This is About Leaving”
Renan Rocha: Essas duas perguntas estão bem ligadas, porque eu estava com a ideia de fazer um álbum no final da Two Places At Once que seria sobre despedidas, sobre o ato sempre da gente se desfazer das coisas, aí eu comecei a ler umas coisas na época e teve um livro chamado “Goodbye Things (Adeus Coisas)” que fala sobre minimalismo, sobre, desfazer dos nossos bens materiais e saber como esse processo se dá se desfazer né e eu fiquei um pouco mexido.
Com isso na época estava indo de encontro com o que eu tinha feito. Nessa época eu tinha largado a faculdade, foi em 2018, se eu não me engano, eu peguei uma mochila e botei as coisas mais importantes para mim e fui embora. Foi exatamente nesse ponto que notei que conseguiria viver minha vida inteira numa mala e aí me deu essa ideia nesse momento que eu estava lendo o livro de que a minha vida cabia num objeto e se cabe numa mala, eu não preciso de mais nada, porque se tudo que eu preciso está aqui comigo, eu já cheguei num estado de perceber que até o que está dentro dessa mala pode ser descartável.
Então comecei a pensar sobre esse processo de despedida das coisas materiais, das pessoas e acabou que nesse meio tempo até a banda acabou. Eu fui para os Estados Unidos e voltei e quando a gente voltou (como banda), não estava funcionando muito (o arranjo musical), as pessoas estavam muito distantes umas das outras, distantes geograficamente também, não estávamos distantes de pensamentos (de vida) porque a gente sempre foi muito próximo.
Mas a banda acabou, por incrível que pareça, foi muito difícil terminar com um projeto que eu já estava sete anos vivendo intensamente aquilo, mas (passar por esse processo) foi o que motivou o surgimento do “This is about Leaving”. Isso foi essencial porque aí eu comecei a escrever o álbum com esse título já o título já veio antes de qualquer coisa então eu falei eu quero escrever sobre isso e bolei esse título, e tudo nesse álbum é sobre partir, a despedida em si sobre tudo isso, acho que esse o título engloba todo esse conceito que pensei lá atrás.
O processo do título do álbum me fez poder superar de forma um pouco mais tranquila essa separação de uma banda e criação de outro (projeto), aí o Rodrigo que era a pessoa que estava ali comigo, do meu lado todo dia e é meu melhor amigo também e a conexão musical então nem se fala, foi quase como natural a gente fazer a Kassel acho que um ano depois da Two Places (At Once) ter terminado a gente já estava lançando uma música junto e aí foi isso acho que meio que é engraçado né porque o álbum saiu depois, mas meio que o álbum e o título (This is about leaving) foi o que me deu combustível para poder superar esse término, vamos dizer né, porque é um término, não deixa de ser. Depois, com mais tranquilidade pude entender que isso é um processo natural de afastamento, de desapego. Apesar de eu ter um enorme carinho por tudo que foi vivido, fui aprendendo a ter um desapego material com as coisas e saber deixar passar o momento mesmo com o carinho que a gente tem pelos momentos que tivemos.
Marcio Weber: É interessante, porque você realmente deu uma deixa perfeita para já emendar essa pergunta que já entra de forma mais explícita em curiosidades sobre o processo criativo do álbum, percebi que em músicas como Zero no trecho
“I’m lost in the pages
I’m Lost in the stages
Am I better without you?
I will get lost so i can get found”
que reforçam essa ideia de incertezas, auto cobranças, dúvidas. Mas também de se arriscar, buscar autoconhecimento. O que a arte, a música, o cinema, a literatura têm proporcionado na sua expressão de mundo e o que isso mudou com o surgimento da Kassel?
Renan Rocha: Cara eu acho que um pouco de tudo assim é bom você ter citado esse trecho da letra até essa letra assim todos têm muito a ver, na verdade, óbvio porque estão todas dentro do mesmo conceito, vou começar pela parte da letra que você está falando e tem um trecho um pouco mais para frente dessa letra que tá um pouco mais pra frente que a parte de “I’m lost in stages” é exatamente um processo antes de eu entender o que era necessário aí depois acho que eu falo que é “I will get lost so i can get found", que é isso, eu vou me perder um pouco para poder me encontrar eu acho que isso vai de encontro com o que me perguntou da literatura, do cinema.
Foi algo que me ajudou nesse processo e também me fez pensar sobre o motivo da criação da Kassel, acho que precisei me perder de tudo e me reinventar para eu conseguir absorver coisas novas e começar caminhos novos, diferentes. Esse livro (Goodbye Things) me despertou bastante. E foi muito catártico vamos dizer, algo que está falando sobre despedido o tempo todo e percebo - caramba, é isso que eu preciso sabe, acaba que você encontra um certo escape ali, que foi através de um livro que pude ler e me proporcionou uma saída para aquele problema que estava lidando, por que não chega a ser um problema psicológico que eu estava tendo, mas era um problema de se perguntar como eu vou levar a vida daqui para frente? A banda naquele momento estava num impasse, porque ninguém estava se encontrando, isso era muito chato.
Por meio desse livro, me despertou um conceito que me trouxe um pensamento de que não é preciso ter tudo no mundo para estar satisfeito com a vida, não preciso ter pessoas do meu lado o tempo todo, mesmo que eu as ame as pessoas que vão ser felizes no lugar que faz sentido no momento seja aqui (Rio de Janeiro), São Paulo, na China, literalmente em qualquer lugar
A verdadeira chave foi de perceber essa tentativa de não exercer um tratamento controlador sobre as coisas o tempo todo, porque acho que a gente tenta ter controle o tempo todo com tudo, seja com as pessoas, seja para com os nossos processos de vida, até mesmo com o que nos inspira, então eu acho que arte em geral me ajudou nisso (em ser menos controlador). Como já disse, em especial a literatura que me influenciou a atenuar esse sentimento de querer ter um controle total sobre as coisas e deixar que elas venham e vão de forma mais orgânica, as coisas têm um no seu tempo e as pessoas também, então tipo em alguma hora alguém vai chegar, outras vão embora, isso para tudo para amizade, relacionamentos em geral. Só que até nós mesmos uma hora vamos embora da vida e tudo bem, a gente precisa aceitar esse processo, mas não é porque estou falando isso que eu tenha aceitado por completo, porém eu acho que o álbum acendeu essa luz para mim de perceber que isso acontece
Não sei se eu estou sendo repetitivo (em trazer novamente a mesma citação), mas em questão do você perguntou mais artística né foi demais assim esse livro do Goodbye Things na época não lembro se teve algum outro que me fez pensar é exatamente isso assim, mas foi talvez o que me deu essa fagulha Inicial e que até hoje eu levo assim como uma grande inspiração para aquela época apesar de não ter nada a ver com arte né ele é um livro sobre organização pessoal um livro sobre móveis, o acúmulo de coisas dentro de casa, não chega ajuda um cara chamado Fumio Sasaki, um autor japonês.
Acho que talvez a maior inspiração que tem elevado a grande parte das composições do álbum. Eu nunca parei para pensar uma coisa que acabei, é que não se trata de um livro estritamente sobre arte, nem tanto sobre decoração, mas é uma corrente de pensamentos puxada para conceitos minimalistas que não tem nada a ver com nem com música, nem com cinema
Marcio Weber: Fiquei pensando, porque dor todo mundo sente, por mais que a gente tenha uma maneira e um jeito de processar as coisas. A questão me parece como direcionamos isso. A gente tenta se desvencilhar um pouco dessa urgência e tentar enxergar um pouco mais além, estar as possibilidades e rumos que a vida traz;
Renan Rocha: Tenho uma parada que eu sempre pensei na vida que foi quase que automático assim que eu sempre detestei fazer planos e aí outro dia eu vi um panfleto ou talvez uma propaganda de um mercado perto da minha casa, a propaganda girava em torno do mercado fazer as entregas muito rápido a propaganda dele é não precisa fazer planos a gente entrega as paradas em 15 minutos você de coisas que talvez você esqueça no mercado e tranquilizando o cliente por conta disso, era algo assim. Isso me despertou uma coisa que, realmente, vai do que penso, e normalmente não quero ser coagido por uma publicidade, mas nesse caso eu fui.
E fiquei pensando nisso de como concordo com , porque eu me sinto muito rígido quando eu faço tanta programação das coisas, me programo tanto e percebo um modo muito controlador seja das minhas próprias ações e também na expectativa com as outras pessoas, de esperar que tal coisa seja de, tal forma, sempre é tudo muito estrito e essa rigidez me traz um sentimento ruim, um desconforto. Porque, no final das contas, acaba que os processos vão mudando, às vezes você tem uma data e aí não vai de acordo com o que pensa no momento e aí, se você é tão rígido, tão controlador a ponto de estar tão preso naquilo que não consegue mudar o plano e não consiga lidar com isso.
As coisas são mutáveis, elas vêm e vão, existe uma maleabilidade na vida, então essas relações que sempre vinha buscando provavelmente não fazem tanto sentido assim, talvez eu não precise fazer um grande plano para tudo. Porém, é óbvio que existe o lado bom o lado ruim de tudo, mas o lado bom de não fazer não me programar tanto é que quando me toquei dessa questão toda falei nossa vou tentar menos ainda ser controlador comigo sabe, mas já não sou tanto tão rígido mesmo com coisas que quero, busco tentar estar mais solto, sentir o que as coisas estão me trazendo de bom, conforme o que eu sinto mesmo e não com a expectativa do que eu posso sentir, mas existe o lado bom de você se se programar óbvio.
Porque muitas vezes você consegue resultados mais efetivos, bem sucedidos porque você se programou, planejou, mas o que estou dizendo é em questão de fazer grandes planos e você não ter controle sobre isso as coisas podem ser adiadas, ou alguém tropeça e machuca o joelho, as coisas não vão de acordo com o que quer entende é isso acho que esse tipo de programação do controle exagerado que estou tentando aos poucos me desfazer, me planejar menos.
Claro que eu sinto que é preciso ter um planejamento em mente não é jogar tudo para o alto e vamos ver no que vai dar, Mas de não ser rígido com esse planejamento saber ter menos rigidez, no final das contas o equilíbrio que vai e prevalecer, pois se você viver sem ter o mínimo de planejamento você provavelmente não vai não dar muitos passa pra frente, você vai andar para lado para outro e dará um passo para frente e cinco para trás. Então, obviamente, é tudo muito confuso. Mas, ao mesmo tempo que você se controla demais, a sua ansiedade cresce e as coisas tendem a desandar, e sou muito ansioso então quando me programo muito, já fico morrendo por dentro de certa forma.
Marcio Weber: Voltando um pouco para os processos musicais, tenho uma curiosidade pessoal: como foi o processo de você ter chegado no verso de That Lost War.
“I left my soul stains
Drown into new rain
And what once was right
I exhale while it dies
And it keeps me alive”
Renan Rocha: Uma coisa legal é que nunca parei para prestar atenção, sabe, não costumo olhar minhas próprias letras e depois voltar e analisar, então essa proposta é muito legal de você me mostrar esse trecho, aí até cheguei a falar comigo mesmo - Cara, isso é muito bonito.
Mas indo por partes, depois de selecionar faixas como “Nightswim” e “Greeneyes” por exemplo, acho que “Home” também são músicas que a gente já tinha uma boa definição de como queríamos e fez vamos, dizer apenas umas quatro ou cinco versões trabalhamos um algumas vezes e pronto. Para exemplificar melhor na Nightswim, lembro que gravei primeiro os violões e depois ficou a faixa e então o violão que está na faixa, depois nem regravei nada. A voz, a gente foi regravar só para poder lançar bonitinho porque foi tudo de primeira.
Por incrível que pareça, eu acho que a música mais difícil foi a "That Lost War" que é essa que a gente está falando agora . Se não me engano lembro da gente ter algumas versões diferentes dela. Eu comecei essa música quando estávamos na Two Places (At Once), então foi algo que veio lá atrás ela nem tinha refrão e isso foi se transformando no percurso. Foram muitos anos até chegar nesse refrão que você me falou desse trecho, então foi isso e não tinha um refrão, só os versos e o regalo (letra) da música, os versos, quem ajudou nesse processo foi o Saulo (von Seehausen ou saudade), produtor da música que me falou” Pô acho que eu começo tá precisando de um refrão, - Vamos criar alguma coisa aqui tá precisando de algo a mais, algo chamativo. Foi mais ou menos isso que ele disse.
Aí eu tocando em casa achei esse nesse primeiro vocalista e me veio isso na cabeça quando eu estava ouvindo muito uma música da (banda) Foals chamada "Knife in The Ocean". Nessa música fala sobre alguma coisa não lembro que ele fala direito, mas alguma coisa que me inspirou na época e percebi o quão interessante aquilo me soava e fui tendo as minhas próprias ideias, até que cheguei nesse refrão do nada, eu não peguei um trecho da música ou nada do tipo, mas foi uma mensagem que me inspirou muito na época que era uma forte inspiração e trazia esse impacto da questão da renovação que a gente (Kassel) está falando nas nossas músicas.
Falando do trecho, aqui em uma tradução bem literal, o significado seria que deixei todas essas manchas minhas, isso veio porque eu estava pensando numa analogia com tintas na época e me veio essa palavra do inglês “stains” que na questão das manchas era algo que me tocava na época e a gente cogitou várias ideias, muitas mesmo, na verdade até na arte das capas dos discos, nos singles de todos serem em pinturas e nisso pensei na relação da tinta nas nossas manchas que a gente deixa assim como numa tela, que você faz a tela ali porque às vezes você tem que tapar tudo por cima, colocar um branco por cima e fazer tudo de novo e aí eu pensei na relação da água, na verdade, de como a tinta se dissolve com água.
Foi uma relação que tive na época de pensar que essas minhas cicatrizes, as minhas manchas poderiam ser dissolvidas com uma água nova e nesse momento que eu cito a palavra "new rain", que simboliza isso uma chuva nova de novidades para mim e que essas cicatrizes todas que eu tenho podem ser limpas, purificadas com a chuva vamos dizer assim, a partir do momento que tenho um respiro na vida. E esse respiro foi voltando ali foi quando eu li sobre o minimalismo, quando li sobre o desapego. Então quando eu consigo me desapegar das coisas, eu consigo me renovar. Então, tudo tem muito a ver com a mesma questão.
Eu continuo na letra falando o que uma vez o que era certo para mim uma vez, agora eu tiro isso de mim e respiro esse ar, enquanto isso morre dentro de mim e isso vai saindo como um uma respiração, tirando de mim aquilo que é ruim. Então aquilo que está me machucando, aquilo que está me maltratando aquelas minhas cicatrizes todas. Então, eu não sei se ficou muito explícito, mas a arte é como uma forma de cura de sobre os problemas mundanos que a gente está tendo sobre esses problemas de excesso de apego de um controle exagerado sobre tudo e de como eu achei uma forma nova de poder me renovar e enfim acho que esse refrão quer conversar um pouco com o título (This is About Leaving).
Foi um longo processo com muitos instrumentos diferentes, começou com beat eletrônico e foi terminar com violões orgânicos, com bateria também orgânica, foi de um solo para outro, de uma música sem refrão para uma música com refrão, que é um dos que eu mais gosto por sinal. E ele conecta 100% com o título do álbum, com a inspiração do álbum que é a cura das nossas cicatrizes, a cura dos nossos erros, e de lidar com as expectativas que temos sobre nós mesmos. As músicas não estão necessariamente interligadas, mas elas vão se complementando no sentido de lidar com esses temas que vão ganhando mais camadas, mas isso não quer dizer que o meu processo é uma superação disso. O álbum termina justamente com uma música (Fear), falando que tenho medo de morrer sozinho, o trecho é o seguinte:
The fear of dying
Dying alone
That fear of hiding
And not coming back home
And die alone”.
Esse medo de morrer sozinho, de se esconder e não voltar mais para casa, morrendo sozinho, então o álbum termina com essa mensagem de que é muito difícil viver nesse mundo, falamos sobre as reflexões e aprendizados, mas também temos medo de morrer. Assim ter desapego é ótimo, mas em momento algum afirmei ou quero dizer que vamos estar bem o tempo inteiro. Vão ter recaídas e esse final simboliza exatamente isso, uma recaída tremenda porque é muito difícil ter que lidar com o curso natural da vida de perder pais, amigos e perceber o que sobra disso tudo. Bate essa angústia forte. Mas é essa relação entre a vida e o controle que temos sobre as coisas, é tudo sobre isso o tempo todo.
Marcio Weber: Falando nesse trajetória, algo que faz parte do processo de lançamento de uma música, são os videoclipes como é para você, tem alguma referência ou alguma intenção específica na hora de produzir os clipes?
Renan Rocha: Escrever roteiros, ter esse momento de fazer um clipe bacana, de ter pessoas convidadas para fazer nas capas com quadros com artes interessantes, de ter uma troca artística fazendo com que a gente que possa chamar artistas talentosos para trabalhar com a gente e dar espaço para trabalharem até com outros tipos de arte até. Acho que a gente sempre pensou o projeto com esse princípio também, de fazer clipes que conversam com a nossa intenção artística, sabe o processo de fazer capas com pessoas que estão querendo expor a própria arte, a gente queria interligar diferentes expressões.
O cinema em geral na verdade foi a primeira coisa que eu pensei, de querer fazer clipes que contam histórias, com sentimentos e que não seja só a banda tocando num lugar aleatório. A gente fez algumas experimentações que deram certo ao meu ver. A gente fez dois clipes caseiros que buscaram o toque mais artístico possível, as músicas foram “Nightswim” e “Zero”.
São clipes que fizemos em casa, e o restante dos clipes a gente tentou contar com equipes, atores, diretores e tentamos escrever um roteiro coeso que tivesse sentido com a música, as faixas gravadas se bem me lembro, foram “Headache” e “Fear”. Mas acho que cada uma em geral foi um reflexo do que estávamos vivendo e vendo naquela época e também tiveram algumas influências.
Em “Fear”, que fiz com o Cacau (Moreira, da Caju Filmes), ali eu estava na pilha de de não aparecer no clipe ou da gente aparecer muito pouco, uma coisa bem Hitchcock de dar aquela palhinha rápida, mas foi um roteiro que me marcou muito. O clipe é sobre uma carta no final das contas, uma carta que tá perdida no mundo e o cara quer achar essa carta que é de uma pessoa que ele amou há muito tempo e a gente não sabe onde está essa pessoa então a gente teve um prazer enorme escrevendo. No roteiro a gente pensava, repensava, escrevia, reescrevia, foi muito prazeroso fazer, que eu acho que foi o clipe mais legal que a gente já fez e também foi o que trabalhamos mais mesmo, foi um processo longo mas muito bacana.
Sobre influências diretas, acho que seria talvez mentiroso da minha arte que eu falar que tem alguma influência muito direta, mas eu lembro de de clipes que a gente sugeriu na época pra gente assistir eu lembro de dois clipes que foram muito referência um para Fear e outro para Headache
O do Headache é um clipe do Cícero que eu gosto que se chama Falso Azul. Um clipe eu acho um clipe muito bom que ele passa um sentimento não é um clipe do tocando nenhuma música e o sentimento que a música é forte, tem um drama a mais ali tem uma um sentimento melancólico que eu acho muito interessante que ele absorve de uma forma muito muito boa com as cores, com a interpretação, com a direção de arte eu gostei muito desse trabalho.
O clipe que ajudou muito a gente também em “Fear”, dois clipes na verdade um é do Ólafur Arnarlds é um cara de música instrumental islandês e ele fez um clipe para uma música que se chama “re;member” se eu não me engano é essa faixa, e ele tem um clipe é um clipe meio azulado assim e conta uma passa um sentimento muito interessante também uma melancolia, mas ele tem uma história que se segue que é simples mas é muito bonita e tem imagens muito interessantes ele pega um pouco sobre essa sensação também queria passar na nossa música que são sobre coisas pequenas é uma noite ali que você acompanha um cara e no final né são coisas tão grandes mas tão pequenas, coisas pequenas que tem um significado tão grande acho que é por aí que eu quis dizer sabe o foi mais ou menos isso então me que inspirou assim na na época mas é engraçado que eu não você me despertar sobre essa questão de clipe porque eu não havia pensado no impacto dos clipes e vejo agora como esse clipe do Ólafur Arnalds foi inspirador. Tem um outro do Jordan Rakei que é um cara que eu também me amarro que foi o Eye to Eye, que conta uma história muito poderosa de um homem que também parte em uma ilha tendo que lidar com o luto que me impactou muito e acabou criando essas conexões para fazermos a nossa arte.
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