Beth Carvalho consiste em uma figura central na história do imaginário social do Brasil. com uma participação que vai além da participação dela no cenário musical brasileiro, sendo uma ativista e participando de movimentos marcantes não apenas para o contexto nacional. Como o título pode antecipar o projeto busca se afastar de um mero registro biográfico e se apoia em uma característica singular da retratada: A habilidade de viver em sociedade e uma pessoa que consegue ir de encontro com diferentes pessoas, de diferentes trajetórias, modos de enxergar e que sintetiza a trajetória pessoal ao transmitir os anseios, os pensamentos e ao que pulsa em sua vida. Os afetos, a maternidade, o senso de justiça, o devir político e principalmente a fascinação pela música.
O filme é composto por materiais do próprio arquivo pessoal da cantora, o que contribui para a sensação de testemunhar um diário sendo revelado a cada imagem, a cada encontro a cada frase dita pela cantora que costura uma cumplicidade e revela facetas que tanto instigam quanto fazem o espectador ansiar por mais.
O longa-metragem dispensa uma estrutura cronológica que identifica os períodos marcantes da carreira da cantora. E brinca com a ordem de origem dos momentos vividos por Beth e a estética do encontro, onde a situação colocada ganha minutos generosos e pode ser desfrutado onde ela pode ser vista contracenando com gerações de compositores, musicistas que carregam um legado inegável para a música brasileira. Dentre muitos dos nomes vistos podem ser citados Mário Lago, Nelson Cavaquinho, Cartola, Dino 7 Cordas, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho e outros incontáveis fomentadores culturais do Brasil. Ela deixa então de ser um tema assuntado para se tornar a espinha dorsal do projeto que é conduzido por uma montagem que prioriza a cadeia de documentação de apresentações, vivências e memórias como um passeio pessoal pela história sociocultural de um país.
Algumas apresentações podem se alongar em excesso, outras podem apresentar uma limitação criativa do realizador em como transpor certos momentos em tela e o ritmo inchado do documentário é sentido. Mas para cada momento negativo existem fragmentos magnéticos e poderosos que alinham a força documental do projeto.
A oportunidade de se reconectar com certos períodos, explorar o passado, conseguir identificar e reconhecer a importância do biografado sem que pareça uma síntese elogiosa, mas um retrato orgânico e plural onde a essência é explorada ao ponto de não apenas gerar um interesse, mas uma vontade de revisitar a carreira dos nomes vinculados no documentário, mas conhecer mais sobre o próprio Brasil.
"Andança - Encontros e Memórias de Beth Carvalho" é uma oportunidade de mergulhar em momentos emotivos em que apenas a qualidade de preservar o próprio percurso de vida pode conservar seja de dispositivos analógicos ou ao digital. Viver também é guardar e relembrar.
Comments