Inspirado em uma história real, o longa-metragem “A Metade de Nós” marca a estreia de Flavio Botelho, o filme chega aos cinemas brasileiros com a missão de debater uns dos temas mais delicados e controversos de serem abordados na sociedade na totalidade: O suicídio, uma vez que no mundo temos em média 800 mil suicídios por ano. A decisão aqui é explicitar a dor, mas evitando estigmatizar ou especular sobre a vida pregressa da vítima. Temos então, de forma frontal e inequívoca o retrato dos pais e como está a vida deles depois desta tragédia pessoal, informação que já nos é introduzido desde o prólogo uma cena em que Francisca (Denise Weinberg) confronta o psiquiatra que atendia o filho enquanto Carlos (Cacá Amaral), tenta mostrar controla, mas aparece igualmente fragilizado, a menção a morte dele vem sem rodeios e questiona, busca uma compreensão no meio sentimentos tão vulneráveis e raivosos.
Um turbilhão incontrolável em que o casal procede de maneira diferente. É a partir deste cenário da fragilidade psicológica e da particularidade de uma dor que o texto de Botelho, Bruno H. Castro e Daniela Capelato expõe justamente como a perda do filho afeta na funcionalidade de uma vida, quiçá do casamento. Como se o alicerce fosse quebrado ao meio, criando uma divisão social, a instabilidade que define trajetórias e marca a relação interpessoal de cada um.
Essa relação é exposta em como Francisca decide confrontar e tenta em um primeiro momento suprir a dor por meio do trabalho de professora universitária, entretanto tão logo o desajuste é evidenciado, uma vez que ela começa a perder o controle dos próprios horários, o silêncio e descaso dos alunos a colocam ainda mais próxima de entender aquela ausência. A convivência com Carlos, então, as tentativas de interação parecem inconvenientes, o jantar passa a ser um evento penoso, ela então ronda como uma alma em eterno suplício, incomunicável além da dor.
Ele, por sua vez, tenta transparecer força, acolhimento, ser o elo forte da ruína iminente que assola a vida do casal. O preenchimento de novas atividades para estabelecer mudanças de hábitos, o contato com outras pessoas, a fuga de um comportamento pré-estabelecido que traz novas sensações. Essa ideia é a metade de algo que já se foi um dia. A intenção psicológica é cada vez mais intensificada ao passo que algumas ações se repetem, de um lado, o interesse em expor a afetação e o estágio intenso de negação, de outro, a instabilidade e a permissividade que desembocam na busca de novos afetos e experiências românticas.
Se de um lado, “A Metade de Nós” deixa claro as ótimas intenções e não mede esforços em expor a devastação do casal que se corrói com a falta do filho diante de uma tragédia pessoal delicada. Porém, a efetividade se sucumbe diante dos cálculos, da repetição e de um certo rigor clínico da mise en scène de Botelho em reiterar as emoções e desajustes daquela situação que não economiza em repetir espaços, situações e padrões de enquadramento essa relação de conveniência expõe o artifício, ainda mais visível com relações convenientes, diálogos pouco convincentes e momentos forçados, Cacá Amaral transita melhor entre as emoções de Carlos, carregando nuances de sentimentos viscerais, enquanto Denise Weinberg apresenta uma personagem carregada, mas pende ao excesso da exposição e menor controle da introversão. Entre sensações irregulares, é decerto que
“A Metade de Nós” aborda uma questão de suma importância na sociedade global, a preocupação com a saúde mental e traz arcos narrativos com a capacidade de gerar identificação, embora escolhas narrativas e desenvolvimentos me afastaram da trama.
A Metade de Nós está em cartaz em cinemas selecionados:
FICHA TÉCNICA;
Direção: Flavio Botelho
Roteiro: Bruno H. Castro, Daniela Capelato, Flavio Botelho
Produção: Caio Gullane, Claudia Büschel, Fabiano Gullane, Flavio Botelho
Elenco: Denise Weinberg, Cacá Amaral, Kelner Macêdo, Clarice Niskier, Henrique Schafer, Justine Otondo
Trilha Sonora: Edson Secco
Fotografia: Leo Resende Ferreira
Edição: Tina Hardy
Design de Produção: Marcos Pedroso
Figurino: Anne Cerutti
Designer de Som: Rubén Valdes
Gênero: Drama
País: Brasil
Ano de Produção: 2023
Duração: 89 minutos
Classificação Indicativa: 14 anos
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